O Perigo de Espalhar Informações Fora de Contexto
“Fora de contexto, qualquer parte de uma história vira um monstro nas sombras esperando para ser iluminado.”
(Jorge Luciano)
Você acorda pela manhã, dá uma espreguiçada rápida e imediatamente enfia a mão embaixo do travesseiro e pega seu celular… Tudo bem, você não coloca ele ali. Então, você é um daqueles que vira para o lado e estica o braço até a mesinha de cabeceira e pega seu celular.
Obviamente, a primeira atitude que você tem é ler as mensagens importantes, como aquela piada que nem é tão engraçada, mas você ri assim mesmo porque ainda está com sono. Lê também algumas informações totalmente indispensáveis sobre os relacionamentos afetivos dos seus amigos e por último lê aquela informação sobre política nacional ou alguma revelação totalmente verídica e revoltante na qual você acredita completamente porque a recebeu de uma fonte super confiável, que é aquele seu conhecido de quem você não sabe muito além do nome e o número do telefone, aliás, o número do telefone você já esqueceu assim que o adicionou aos contatos.
Logo depois você acessa o que é realmente importante, ou seja, entra nas suas contas do Face e do Insta e vê o que todos os perfis que você segue publicaram sobre temas totalmente relevantes como festas, comidas, viagens e outros eventos fundamentais para o seu dia-a-dia.
Então, com base nestas informações, você constrói seu roteiro de conversas e opiniões sobre todos os vídeos, áudios, textos e imagens a que você teve acesso, em especial, aquela declaração bombástica feita por aquela pessoa famosa, mas totalmente desconhecida, que discursa com uma eloquência contagiante e que tudo o que ela está revelando é a mais pura verdade, cuja fonte ela não pode revelar por questões de segurança, ou ainda aquele áudio ou vídeo editado, mas que mostra a realidade sobre como determinada pessoa pensa ou age.
Isso sem contar os absurdos da situação apresentada na mídia a que você tem acesso de forma exclusiva através daquele seu amigo que lhe encaminha tudo que recebe porque a verdade deve ser compartilhada, afinal, se cada um que receber compartilhar com pelo menos 20 contatos, em pouquíssimo tempo seremos milhões e a democracia não pode ser calada.
E o que fazemos diante de todo esse absurdo que acabei de apresentar?
Encaminhamos e compartilhamos imediatamente para o maior número possível de contatos, sem nem ao menos checar se aquilo realmente aconteceu e se realmente foi daquela forma como a informação nos foi repassada.
É claro que algumas notícias são mesmo da forma que nos chegou, mas a maioria é apenas um trecho selecionado de um momento muito maior e que, ao ser colocado fora de contexto, apresenta uma situação ou opinião equivocada e isso quando não é uma informação artificialmente construída e inverídica.
No universo profissional e empresarial os contornos destas situações não são menos desastrosos nem menos prejudiciais para os negócios.
São carreiras perdidas ou postas em risco por causa de notícias falsas espalhadas através das redes sociais; são empresas que respondem processos e perdem clientes pelo mesmo motivo. Existe ainda o mal estar e o dano ao clima organizacional provocados pelo comportamento de compartilhar sem questionar.
É imprescindível, e porque não dizer urgente, que comecemos um processo interno em nossas empresas com o objetivo de educar tanto os nossos colaboradores como a nós mesmos a questionar a veracidade do conteúdo que chega até nós através das redes sociais, mesmo quando recebida de alguém em quem depositamos nossa confiança.
Não, não é paranóia. A responsabilidade por nossos atos digitais já é uma realidade.
O mundo digital não é um local onde você trafega de forma anônima, principalmente o usuário comum, sem deixar seu rastro e suas pegadas digitais. Vai dizer que nunca notou que as propagandas e imagens que lhe são apresentadas ou oferecidas sempre são relacionadas de alguma forma com seus hábitos no mundo virtual?
Por isso, reforço a importância de entender que fora de contexto, qualquer parte de uma história vira um monstro esperando nas sombras e ele será alimentado tanto mais quanto forem os compartilhamentos insensatos e por vezes maldosos.
Você não acredita que isso realmente é tão importante ou sério assim?
Então, é preciso que você perceba a gravidade do problema sob o ponto de vista jurídico neste mundo do fake, onde um elogio ou uma brincadeira podem facilmente tomar a forma de assédio, um trecho isolado de uma resposta pode ser colocado como descaso ou agressão e uma informação incompleta pode ser usada contra você ou sua empresa.
Eu sei que existe aquele velho ditado que diz que “quem não deve, não teme”, mas mesmo que você prove que está certo, o tempo perdido com a resolução do problema e a reputação arranhada não se recuperam jamais.
Leve a sério as informações que trafegam na sua empresa ou sobre ela, e oriente seus colaboradores a sempre confrontar a notícia com a fonte, além de terem cuidado com o que escrevem ou divulgam. Essa atitude é saudável para você e para sua empresa.
Ou você prefere continuar a iluminar o monstro nas sombras para que todos o vejam?
Espero que não.
Comentário Final:
A reflexão apresentada neste texto sobre a importância de verificar as informações e os danos causados pela desinformação remete diretamente ao conteúdo abordado no artigo [Fora de contexto, qualquer parte da história vira um monstro], que destaca os efeitos negativos da falta de contexto. Além disso, questões relacionadas à responsabilidade digital, mencionadas aqui, também estão presentes em outros artigos como [Nada de sobrenatural, apenas seus esqueletos e fantasmas], que aborda como traumas e crises podem ser gerenciados ao enfrentar realidades desconfortáveis, e [Entre o agora e o nunca], que fala sobre decisões no presente, incluindo a escolha de como reagir diante de informações errôneas.
Convite:
Convido você a conhecer mais sobre esses e outros temas em meus livros, onde abordo a importância de refletir sobre nossas atitudes digitais e suas consequências, ajudando a criar um ambiente mais consciente e responsável para todos.

A Essência Por Trás das Minhas Palavras
Comparação criativa e impactante
Quando comecei o texto, queria criar uma imagem forte logo no começo. A frase “Fora de contexto, qualquer parte de uma história vira um monstro nas sombras esperando para ser iluminado” foi uma maneira de mostrar como as informações podem ser distorcidas quando tiradas de seu contexto original. Ao usar a metáfora do “monstro nas sombras”, tentei mostrar que o “monstro” não é apenas uma figura assustadora, mas representa como as informações fora de lugar podem se alimentar da desinformação e ganhar vida própria, algo que é muito comum nas redes sociais. Eu queria que o leitor sentisse essa inquietação logo no início.
Observações cotidianas e identificação com o leitor
Ao descrever a rotina de alguém ao acordar e acessar as redes sociais, eu quis criar uma conexão imediata com o assunto da desinformação como algo próximo e familiar, mostrando como ela entra na vida das pessoas de maneira sutil, quase diária. Esse tipo de abordagem traz à tona hábitos comuns de quem está imerso no mundo digital, e com isso, o tema ganha relevância para a maioria. Eu queria que, ao lerem essa parte, as pessoas se vissem ali, refletindo sobre seus próprios comportamentos e como, muitas vezes, elas também compartilham informações sem pensar nas consequências.
Crítica social sutil e irônica
O tom irônico e sarcástico que usei foi uma maneira de provocar o “pensar a respeito” sobre a forma como reagimos às informações que recebemos nas redes sociais. Quando falo sobre as atitudes comuns de quem compartilha sem verificar, o objetivo é desafiar a visão do leitor, sem ser moralista. Não queria impor uma lição, mas, sim, gerar uma reflexão interna. O sarcasmo, nesse caso, funciona como um espelho para os leitores enxergarem seus próprios hábitos, e talvez até se questionarem sobre o quanto isso pode ser prejudicial.
Contextualização profissional e empresarial
Eu quis ampliar a discussão para além do âmbito pessoal e levar a reflexão para o impacto que a desinformação pode ter no mundo profissional. Mostrar como fake news podem afetar uma empresa foi uma maneira de tratar do assunto de forma mais séria, levando o leitor a perceber que o problema não é apenas individual, mas também institucional. O mundo corporativo é extremamente sensível a informações distorcidas, e trazer esse ponto de vista mostrou como a desinformação pode prejudicar a reputação e o funcionamento das organizações. Eu acredito que, ao incluir esse aspecto, a questão da fake news ganhou uma nova dimensão.
Chamado à ação reflexiva
Ao final, meu objetivo era não só expor o problema, mas também sugerir maneiras de lidar com ele. Falar sobre a necessidade de educar os colaboradores e ser mais cauteloso ao compartilhar informações é uma tentativa de provocar uma ação consciente. Além disso, mencionei a preocupação com as repercussões legais, pois isso é algo que pode realmente fazer a diferença na forma como as pessoas lidam com o que leem e compartilham. Eu queria deixar claro que o problema da desinformação exige uma postura responsável tanto individual quanto coletiva, e sugerir soluções é uma maneira de incentivar os leitores a tomar atitudes mais cuidadosas no futuro.