Você não é todo mundo

Como lidar com o que está errado

– Falaí Pedrão! Como cê tá? — Uilsinho mandou o comprimento acompanhado de um daqueles tapas nas costas que fazem com que nós nos curvemos para frente.

– Estou bem Ursão! Só com as crises de sempre… — respondi encenando uma dor exagerada devida ao tapa dele.

Aliás, cabe aqui uma breve apresentação. Ursão é o meu melhor amigo. Todo mundo chama ele assim porque ele é cabeludo e muito grande para a idade que tem, e também porque seus pais resolveram colocar nele o nome Uilso. Isso mesmo, não é Uílson, nem muito menos Wilson com dábliu, é Uilso com U mesmo e sem N ou M no final.

Mas ele só assusta pelo tamanho e pela cara feia. Por dentro tem um coração gigante, acredito que até maior que ele mesmo, e está sempre procurando uma forma de ajudar qualquer um que cruze seu caminho.

Ursão sabia que eu vinha enfrentando alguns problemas de relacionamento. Estava tudo muito complicado na minha vida. Ultimamente vivia entrando em conflito qualquer pessoa. Era assim em casa, no colégio, no estágio que acredito que estou quase perdendo por isso, e até mesmo com a Ritinha, quem eu imaginava que seria a primeira pessoa que me entenderia, só que não!

– Ah! Pedrão! Cê precisa aprender a ter mais calma. As coisas vão se ajeitar, cê vai ver. É só uma fase…

– Todo mundo vive dizendo isso para mim! — interrompi — Mas o que eu estou sentindo não tem nada a ver com fase nenhuma.

– Tem a ver com o que então? — Ursão questionou segurando meu braço e me fazendo parar e olhar para ele.

Segurei o olhar dele por alguns instantes, procurando as palavras para explicar o que eu estava sentindo, mas elas não vinham. Só aquele silêncio no pensamento que me deixava muito frustrado e com raiva, e era aqui que a coisa ficava feia para mim. Com raiva eu explodia e falava ou respondia qualquer coisa e de qualquer maneira e as pessoas interpretavam minha atitude como rebeldia ou mau comportamento.

Só que Ursão me conhecia e sabia que eu não era assim, por isso sustentou o olhar e o aperto no braço até eu perder aquele olhar duro e respirasse fundo.

– Desculpe… — falei.

– Sabe que não precisa, somos parceiros. — ele respondeu depressa.

– Eu fico com uma raiva enorme por não conseguir encontrar as palavras para dizer o que quero, para expressar o que estou sentindo, mas é uma raiva de mim mesmo, não tem nada a ver com as outras pessoas. Só que ninguém entende isso e acabam pensando que sou rebelde. Então, nós acabamos brigando.

Então, foi isso que aconteceu entre você e a Ritinha, ontem?

– Foi… Eu comecei a contar sobre umas coisas que eu tenho visto acontecendo lá no estágio. Umas coisas que eu não acho certo e que estão me incomodando muito, mas ela nem ligou. Disse que essas coisas acontecem e é normal e terminou dizendo para eu me acostumar, porque todo mundo faz.

E foi aí que eu explodi…

– De novo, né! — me interrompeu falando em meio aquele sorrisinho cínico que me faz querer bater nele, o que só não faço em respeito ao tamanho do cara.

– É! Explodi de novo, afinal não importa se todo mundo faz, eu não sou todo mundo! — respondi exasperado e continuei — E é assim sempre! Se eu não concordo com alguma atitude que considero muito errada, não consigo me sentir bem com a situação. Não foi assim que aprendi.

– Quer ver um exemplo de uma coisa que me deixa louco? Outro dia, eu vi um funcionário com quem lido direto deixando passar um erro na contagem que estávamos fazendo no estoque da empresa. É época de balanço, e como você sabe, meu estágio é numa grande distribuidora e o estoque lá é enorme.

– Então, eu vi o erro e mostrei para ele, mas ele ignorou. Disse que ia dar muito mais trabalho corrigir o erro do que deixar passar, e que não teria problema porque era só um “errinho de nada, só uma besteirinha”, nas palavras dele.

– Foi isso que eu contei para a Ritinha e ela disse que se o cara falou ser só uma coisinha à toa, então eu não tinha nem que preocupar, nem me meter, afinal o cara era funcionário e eu só um estagiário.

Parei de falar um pouco, recuperando o folego após falar disparado daquele jeito. Como sempre, Ursão continuava quieto, ouvindo e aguardando eu terminar de colocar tudo para fora.

– Eu não consigo ficar bem vendo uma coisa errada sendo tratada como se fosse uma coisa qualquer sem importância. Isso me incomoda tanto que chega a doer. O pior é quando eu converso com alguém buscando uma opinião ou uma ajuda, e a pessoa vem com essa história de que o mundo é assim mesmo e todo mundo faz, então eu tenho que me acostumar, aceitar e deixar para lá.

– Só que eu não consigo me acostumar nem aceitar, e deixar para lá então, nem se fala!

– O que você acha, Ursão? Estou errado em pensar assim?

– Eu acredito que não, Pedrão! Afinal, independentemente se o erro é grande ou se é um errinho, errado é sempre errado. Eu também acredito e penso da mesma forma que você. Acredito que esse é um dos motivos pelos quais somos amigos, mas… — parou de falar e ficou só olhando para mim.

– Mas o quê, Ursão? — provoquei falando mais alto do que pretendia, o que fez com que minha voz saísse um tanto esganiçada, fazendo com que nós dois caíssemos numa gargalhada que demorou a acabar.

Eu parei no “mas” porque pensei em falar outra coisa antes de continuar o raciocínio…

– Como se você soubesse fazer isso! — cortei com a piada, o que fez com que a gargalhada recomeçasse, porém, desta vez, Ursão respirou fundo e se controlou, voltando a falar quase imediatamente.

– Eu estava falando — ele olhou-me sério, como se me desafiasse a interrompê-lo novamente, o que obviamente não fiz — sobre uma característica que meu pai sempre me ensinou a valorizar nas pessoas e que eu vejo em você. Cê sabe qual é?

– Não faço a mínima ideia. — respondi rápido — Seria minha beleza interior ou minha inteligência?

– Como se você soubesse o que é isso. — foi a vez dele me espetar, o que nos fez rir novamente.

– Um bom caráter. Essa é a característica que eu procuro nas pessoas e a vejo em você. — Ursão continuou — E continuando aquele “mas”, assim como você, eu também acredito que nós não devemos aceitar coisas erradas, mas você está se esquecendo de um fato muito importante.

– Que seria? — perguntei.

– Que nós vivemos em sociedade, comunidade, ou seja, lá como cê quiser chamar. Mas o mais importante disso, é que nesse negócio de viver em sociedade, todos somos obrigados a aprender como nos relacionar com as outras pessoas, e meu pai sempre diz que isso não é uma coisa simples nem fácil.

– Porque ele diz isso?

– Ele diz que as pessoas são todas muito diferentes, mesmo aquelas criadas dentro de uma mesma família, e ele sempre fala que, como se isso não fosse o suficiente, ainda somos influenciados por um montão de outros fatores…

– Fatores? — perguntei, com certeza fazendo uma cara de bobo, porque ele me olhou e riu de mim.

– Ele chama fatores coisas como cultura, educação, religião, os grupos dos quais participamos e um monte de outros.

Eu não sou influenciado assim, não! — me defendi.

– Não, né! — Ursão deu uma risada gostosa e atacou — E esse cheirinho bom com que cê anda ultimamente…

– Que cheirinho? Não sei sobre o que você está falando!

– Não sabe, né! — Ursão replicou ainda rindo muito — Nem sabe nada sobre essa mania de ficar passando perfume e usar xampu com que cê tá desde que a Ritinha disse gostar de homem cheiroso. Vai dizer que isso não é influência não, né?

– Está bem! Também sou influenciado, mas só um pouco, tá! Mas vamos continuar com nosso assunto. O que você estava falando mesmo? — disse procurando desviar a atenção dele, mas podia sentir o rosto quente, o que era sinal de que deveria estar muito vermelho.

– Voltando ao nosso assunto — ele recomeçou, desta vez sem rir — o seu bom caráter faz com que cê não aceite as coisas erradas e isso é excelente, mas o que você precisa aprender é como cê deve se relacionar com essas situações.

– Como assim? — perguntei curioso.

– Meu pai sempre diz que escapar das influências que sofremos o tempo todo é muito difícil, talvez até impossível, por isso não adianta ficar brigando com todo mundo o tempo todo…

– Então, você está dizendo que eu tenho que aprender a aceitar o que eu vejo de errado? — questionei.

– Claro que não, Pedrão! O que eu estou tentando dizer é que cê não deve aceitar o errado, mas que também não deve ficar brigando por causa disso.

– E o que eu faço então? Ignoro? — perguntei, já sentindo aquela vontade de explodir aparecer novamente.

– Claro que não, de novo! Ah! E trate de se acalmar porque você está parecendo um pimentão, igualzinho aquela vez que você ficou se bronzeando na praia sem protetor solar. — falou e começou a rir de mim novamente, quando eu arregalei os olhos ao lembrar daquele dia.

– Eu entendo o que você está sentindo, pode acreditar. — Ursão continuou — Eu também fiquei meio assim quando meu pai conversou comigo sobre isso, até ele me explicar melhor.

– Ele me disse que eu tinha que aprender 3 coisas…- Que seriam? – interrompi, mais calmo e curioso.

– Como cê tá apressadinho hoje, hein? — ele sorriu e continuou — A primeira coisa que eu preciso aprender é separar as coisas. Eu preciso entender que eu fico com raiva da situação provocada pelo que está errado ou com raiva da pessoa que provocou o que está errado, e não do que está errado.

– Ele me disse que no dia a dia a gente sempre esbarra com um montão de coisas erradas, mas que não notamos a maioria delas, porque estamos com nossa atenção voltada para outras coisas. Ele explicou que nós só vemos que algo está errado quando prestamos atenção naquilo.

– Veja o que aconteceu com você, por exemplo. Cê já está neste estágio há um tempão, não é? E com certeza já foi no estoque um monte de vezes e nunca percebeu nada errado lá. Foi só quando começou a fazer a contagem é que cê notou o que estava errado. É bem provável que, se você não estivesse participando do processo, nem o outro cara iria perceber que contou errado.

– No final, cê não ficou com raiva do que estava errado. Ficou com raiva das situações que vieram depois que identificou o erro. A primeira foi a diminuição da importância que o cara deu ao que estava errado e ao seu alerta. A segunda foi a briga com Ritinha.

– Sabe que você está com toda razão, Ursão! — disse pensativo — Se eu não tivesse visto aquele erro, eu ia continuar achando o Fabrício um cara legal e também não teria discutido com Ritinha, coisa que, aliás, vai me dar um trabalhão consertar.

Ursão ficou me olhando, esperando para ver se eu ia dizer mais algo, e como viu que eu devia estar pensando sobre minha situação com Ritinha, continuou.

– A segunda coisa que meu pai disse que preciso aprender é diferenciar se o que eu percebi que está errado foi feito de propósito ou não.

– Hã! Não entendi… Como assim, feito de propósito ou não? — perguntei.

– Meu pai explicou ser preciso saber se a pessoa que fez o que está errado, sabia estar errado e fez assim mesmo ou se não tinha intenção de fazer errado, mas acabou fazendo errado sem querer ou nem percebeu estar errado. — ele começou a explicar.

– Usando o seu exemplo do estágio, cê se lembra daquela aula de administração, quando o professor explicou sobre margem de erro aceitável? Talvez o Fabrício sabia que aquele erro na contagem estava dentro da tal margem aceitável por isso não se incomodou em corrigir…

– É, mas se foi isso ele poderia ter me dito! — interrompi.

– Na verdade, ele não precisava dizer nada…

– Por que não? — interrompi novamente.

– Ora, porque cê não perguntou, perguntou? — Ursão respondeu rindo outra vez, enquanto continuou a explicar.

– É exatamente por isso que meu pai disse ser importante saber se o que está errado foi feito de propósito ou não, e para saber é preciso perguntar, coisa que cê não fez, né!

Diante do meu silêncio resignado, ele continuou.

– A terceira coisa que ele disse que eu preciso aprender é decidir o que fazer com o que percebi até aqui, mas peraí que vou explicar melhor. — falou rápido, fazendo com que meu próximo comentário ficasse suspenso na minha boca entreaberta.

– Primeiro, eu percebo algo errado, então faço a pergunta: eu realmente preciso me envolver nesta situação ou o que posso fazer para evitar me envolver em alguma situação ruim que pode surgir a partir do que vi de errado?

– Mas isso não seria o mesmo que ignorar ou fugir do problema? — questionei.

– Não. — Ursão respondeu rápido — Ele disse que na maioria das vezes, eu não poderei fazer nada para resolver o que está errado porque a responsabilidade sobre aquilo não é minha e me envolver pode até piorar a situação. Nas outras vezes, é preciso perguntar porque aquilo está errado. Ele me explicou que as respostas que eu receber já indicarão se os envolvidos no problema sabiam ou não que aquilo era errado e se fizeram intencionalmente ou não.

– A partir daí, ele me disse três atitudes que posso tomar depois que avaliar o que percebi. — falou apresentando a mão direita com o dedo indicador levantado.

– Primeiro, se o que está errado não foi feito intencionalmente e eu tiver o conhecimento ou os recursos necessários para corrigi-lo, eu devo alertar e, se possível, fazer o certo ou orientar e ajudar o responsável pela correção.

– Segundo — disse levantando dois dedos desta vez — ainda se não houve intenção, mas eu não sei como nem tenho recursos para corrigir, devo alertar o responsável e avaliar se devo me colocar à disposição ou não. Ele citou aquele dito popular que sempre fala e que você conhece…

– “Mais ajuda quem menos atrapalha.” — repetimos juntos a frase que o pai do Ursão sempre fala quando ficamos rodeando em torno de algo que ele está fazendo.

– Terceiro — Ursão recomeçou após tomar folego e parar de rir — no caso do que estiver errado ter sido feito de propósito, eu devo avaliar se tenho alguma responsabilidade ou obrigação sobre aquilo. Se eu tiver, é preciso corrigir o quanto antes. Mas se eu não tenho nada a ver com o problema, devo avaliar quais os riscos de me envolver.

– Riscos? — questionei.

– Sim. — respondeu — Meu pai me lembrou que neste último caso, quem fez o que está errado sabia o que estava fazendo e pode estar justamente buscando alguém para pôr a culpa, neste caso, nós.

– Ah! Ele me alertou também para eu não me esquecer de que algumas vezes quem irá fazer o que está errado serei eu mesmo, e quando isso acontecer eu preciso aprender outra lição. Eu devo aprender que algumas vezes a obrigação de corrigir o que está errado não será minha, mesmo tendo sido eu o responsável por aquele erro.

– Ué! Não entendi… — falei enquanto abaixava para amarrar o tênis que havia desfeito o laço agora a pouco — Se eu sou o responsável, não é minha a obrigação de consertar o que fiz de errado?

– Ele disse que nem sempre. — Ursão respondeu — Ele me lembrou ser bem possível que eu tenha feito aquela determinada coisa errada porque não sabia fazer direito ou nem sabia como fazer ou mesmo se era realmente necessário que aquela coisa precisasse ser feita. Então, se eu mesmo corrigir, é provável que eu só vá piorar a situação…

– Tá! Isso eu entendi. — interrompi — Mas como eu sei de quem é a obrigação de consertar?

– Segundo meu pai, isso depende do que está errado, mas geralmente essa obrigação está nas mãos de quem possui o conhecimento necessário para corrigir…

– Exemplo, por favor. — interrompi novamente.

– Cê tá pensando que eu não sei, né! — ele respondeu rindo — Eu fiz a mesma pergunta para o meu pai. Ele disse como exemplo, que se o que está errado está relacionado com algo jurídico, quem tem a obrigação de corrigir é um advogado, assim como se o que está errado for relacionado com mecânica, a obrigação será de um engenheiro mecânico ou outro profissional da área, e assim por diante.

– Mas ele me disse também — continuou antes que eu pudesse interrompê-lo novamente — que eu não me esquecesse de que a responsabilidade por aquilo que está errado é minha, e isso inclui arcar com os custos da correção do que está errado.

– Como assim, arcar com os custos? — perguntei surpreso.

– Ora, repetindo o que meu pai disse: “Você acha mesmo que o advogado, o mecânico ou qualquer outra pessoa irá corrigir o seu erro de graça?” — Ursão respondeu, imitando o jeito do seu pai falar, enquanto tentava em vão segurar o riso.

– Ele me disse também que nem sempre o custo a ser pago tem a ver com dinheiro. — continuou a explicar depois que parou de rir — Muitas vezes o custo é perder alguma posição ou cargo, perder algum benefício ou renunciar a algo que eu considero importante. Algumas vezes, também pode ser que eu tenha que realizar alguma tarefa ou assumir outras responsabilidades.

– No final da conversa com meu pai, ele me deu um conselho, dizendo que eu deveria procurar nunca esquecê-lo. — continuou falando, agora andando um pouco mais devagar, já que estávamos chegando perto da minha casa — Ele me disse que, independentemente do que estiver errado ter sido percebido por mim ou por outra pessoa, ou ainda se a responsabilidade ou a obrigação de corrigir seja minha ou não, eu devo procurar sempre aprender algo com o erro e buscar melhorar sempre, tanto a mim mesmo como tudo o que estiver ao meu redor.

– Do que você está rindo agora? — Ursão quis saber ao me ver rindo logo após ele terminar de dividir comigo o conselho que seu pai lhe dera.

– Ah! É que conheço um monte de gente que se outra pessoa tiver a obrigação de corrigir o que elas fizeram de errado, vão ficar quietinhas como se não tivessem nada a ver com isso. — respondi.

Ursão parou em frente ao portão da casa onde eu moro e ficou me olhando atentamente de cima a baixo, o que me fez parar de andar. Era obvio que ele estava fazendo uma pausa dramática, o que, funciona muito bem comigo, já que sou muito curioso.

– Que foi!? — perguntei.

Estava aqui pensando uma coisa… — ele começou a andar novamente, afastando-se do portão que eu já havia quase atravessado.

– Que foi? — perguntei novamente, desta vez usando um tom de súplica.

– Um monte de gente age assim mesmo, né. — disse continuando a se afastar, a caminho da própria casa.

– E? — insisti para que respondesse.

– E, que tem realmente um monte de gente que age assim, mas não importa se todo mundo faz, afinal, você não é todo mundo. — falou, piscando o olho direito e voltando-se para frente, acelerou o passo em direção de casa.

Fiquei parado no portão acompanhando-o se afastar até vê-lo dobrar a esquina. Lembrei de nossa conversa e sorrindo, falei para mim mesmo em voz alta enquanto entrava em casa:

– Ainda bem que eu não sou todo mundo!

Comentário:

Este texto aborda um tema muito relevante para qualquer pessoa que já sentiu frustração ao ver algo errado sendo tratado com normalidade. A história nos mostra que ter princípios sólidos é essencial, mas que a forma como lidamos com conflitos pode fazer toda a diferença. O equilíbrio entre agir com integridade e entender o contexto social é um aprendizado valioso, e a conversa entre Pedro e Ursão ilustra isso de forma envolvente e reflexiva.

Convite:

Quantas vezes você já se sentiu como Pedro, indignado ao ver algo errado sendo ignorado pelos outros? E como você lida com isso: explode ou busca uma solução mais estratégica? Compartilhe suas experiências nos comentários! Vamos trocar ideias sobre como manter nossa integridade sem cair em conflitos desnecessários.

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A Essência Por Trás das Minhas Palavras

Personagens e Relações Humanas

A amizade entre Pedrão e Ursão, em minha história, é a base que sustenta todo o enredo, algo que fiz questão de construir de forma genuína e natural. A relação entre os dois vai além de um simples elemento narrativo; ela é uma ferramenta crucial para explorar um tema fundamental: a importância de enfrentar os desafios da vida sem perder a essência de quem somos. Em especial, procurei destacar o contraste entre a aparência de Ursão, um personagem que é fisicamente imponente, e a profundidade de seu caráter. Isso é algo que considero essencial para dar uma nova perspectiva ao estereótipo do “fortão”, tornando Ursão um amigo capaz de oferecer sabedoria e reflexão, além de apenas ser um apoio físico.

O que busquei foi dar uma dimensão mais rica ao personagem de Ursão. Ao criar esse “grandão” com uma personalidade complexa, com sabedoria e calma, tentei subverter as expectativas que geralmente surgem com esse tipo de personagem. Em vez de apresentar apenas o amigo que está ali para proteger fisicamente, meu Ursão é o tipo de amigo que compartilha ensinamentos valiosos, fazendo com que ele não seja apenas uma figura de apoio, mas uma fonte de aprendizado emocional.

Reflexões sobre Erro, Responsabilidade e Relacionamentos

Eu queria explorar de maneira profunda o tema da moralidade, mais especificamente a ideia de como lidamos com os erros — tanto os nossos quanto os dos outros. A maneira como a história aborda o erro não é no sentido de simplesmente aceitá-lo ou ignorá-lo, mas de entender o contexto e assumir a responsabilidade por ele. A reflexão sobre separar as emoções da situação, avaliar se o erro foi intencional ou não, e agir de acordo com a melhor forma de lidar com isso, foi uma forma de apresentar um olhar mais maduro e equilibrado sobre situações cotidianas.

A parte como a moralidade é discutida: não como algo preto e branco, deve ser vista como algo que exige uma resposta adaptada ao contexto. A ideia de “não aceitar o errado, mas também não brigar por causa disso” oferece uma visão mais equilibrada, desafiando a tendência comum de simplificar as situações morais. Ao invés de buscar um vilão ou uma vítima, procurei apresentar uma abordagem mais reflexiva e menos reativa sobre como lidar com os desafios morais na vida cotidiana.

Abordagem da Influência Social

A influência social também é um tema central na história, com a ideia de que todos nós somos moldados por fatores externos, como a cultura, a educação e até mesmo as relações pessoais. A conversa entre Pedrão e Ursão sobre como essas influências podem ser vistas de forma positiva ou negativa é, para mim, uma forma de refletir sobre como o meio pode afetar nosso desenvolvimento e comportamento.

O que busquei mostrar foi o conceito de que a percepção do que é “errado” nem sempre é uma questão individual. Às vezes, ela é influenciada por fatores externos que nem sempre conseguimos controlar. Isso foi uma tentativa de desafiar a visão tradicional de culpa e responsabilidade, sugerindo que, em algumas situações, nem sempre somos os únicos responsáveis por corrigir um erro. A maneira como a influência social é abordada — como, por exemplo, a relação de Pedrão com o cheiro, que é influenciado pela Ritinha — mostra de forma sutil que até mesmo as nossas escolhas mais pessoais são afetadas por outras pessoas ao nosso redor.

Conclusão e Reflexão Final

O final da história foi pensado para deixar uma sensação de continuidade, com uma conclusão aberta que convida o leitor a pensar sobre a própria identidade e o modo como se posiciona diante de um mundo que constantemente nos diz como devemos agir. A frase “não somos todo mundo” foi escolhida para desafiar o leitor a questionar sua identidade e a ideia de seguir um caminho imposto pelos outros.

A frase “Ainda bem que eu não sou todo mundo!” é o fechamento emocional de toda a jornada de Pedrão. Ela resume não só a libertação de seguir o próprio caminho, mas também a afirmação de que, apesar das dificuldades e erros, é possível aprender com eles e não se deixar consumir pelas normas e pressões externas. Esse é um conceito que acredito ser importante: ser capaz de se manter fiel à própria essência, mesmo quando o mundo ao redor tenta nos moldar.