O que Você Realmente Julga em Suas Decisões?

Gosto muito de assistir a filmes, como você já deve ter notado. Outro dia, tive o prazer de assistir ao filme “A Espiã Vermelha” (Red Joan – 2018). É um filme de espionagem, drama e suspense, inspirado na história real de Melita Norwood, famosa espiã inglesa que ajudou a União Soviética ao longo de 30 anos.

O filme começa com sua prisão, realizada pelos agentes do MI6, a agência britânica de inteligência, e se desenrola a partir daí. Ele trata de mundos diferentes, épocas diferentes, decisões importantes e ocultas, acordos e segredos, sobre confidencialidade e quebra de sigilo e suas consequências a longo prazo.

Ele fala especialmente sobre como as pessoas reagem no presente em relação a atitudes tomadas em um passado já distante. Reações relacionadas a um passado visto e avaliado do presente, sobre uma mulher cientista e inteligente vivendo entre homens, em um mundo masculino repleto da influência marcante e intimidadora da corrida armamentista nuclear.

A pergunta fácil que nos vem à mente é: por que alguém trairia seu próprio país, por tanto tempo e em assuntos tão delicados e importantes, como a pesquisa nuclear que objetivava a construção de armas com poder de definir conflitos internacionais de grande escala?

Outra pergunta, não tão fácil assim, é: como você julgaria esses atos de flagrante traição?

Na visão da personagem, contudo, ela nunca traiu ou deixou de ser patriota. Seu objetivo não foi trair, e sim equilibrar uma balança perigosa demais, pois ao compartilhar seu conhecimento sobre a pesquisa britânica sobre o átomo com os soviéticos, ela impediu que apenas um lado obtivesse a supremacia sobre o outro através de um poder avassalador, sustentado pelo medo de uma ameaça atômica.

Os que a acusaram de traição o fizeram no presente, baseados somente em suas interpretações de documentos e descrições de eventos e situações ocorridos em um passado do qual não fizeram parte, e cuja lembrança muitos dos que viveram preferiam não ter. Seus atos ocorreram naquele presente de anos atrás, em tempo real, com suas crenças e convicções sobre a capacidade, ou melhor, sobre a incapacidade do homem em lidar com o poder de forma unilateral, convicções reforçadas pelas ações que levaram à destruição de Hiroshima utilizando o fruto da mesma pesquisa que ela desenvolvia.

Não tenho aqui a pretensão de julgar os atos ou os fatos, pois embora tenha sido inspirado na vida real, estamos aqui falando de um filme. Então, a atitude considerada traição é vista por ela como um ato de consciência realizado em defesa da humanidade, proclamado na declaração de que ela estava correta, visto que nos 50 anos seguintes a Hiroshima aquela atrocidade não mais se repetiu.

Essa declaração me fez refletir e querer compartilhar com você algumas considerações, além de provocar alguns questionamentos. Aproveite e pegue papel e caneta para anotar suas respostas.

A primeira consideração é se sou capaz de lutar pelo meu espaço e me adaptar, dando o melhor de mim, mesmo quando não sou reconhecido ou, pior, quando sou reconhecido como algo menor e menos relevante do que realmente sou. E você, como se porta nessas mesmas situações? Você luta e se adapta ou aceita passivamente um reconhecimento equivocado?

Depois, se sou capaz de manter minhas convicções no que acredito ser certo, mesmo sabendo que, ao fazer isso, é provável que eu seja excluído dos círculos aos quais estou acostumado, e até mesmo venha a perder status, coisas e pessoas que julgo serem importantes para mim. Como você se comporta? Mantém-se fiel ao que acredita, apesar das possíveis consequências, ou busca ir por um caminho, digamos, menos doloroso?

Questionei ainda se seria capaz de decidir-me por ações e atitudes que possam ser contrárias ao senso comum, porém baseadas em minhas crenças e convicções do que é certo e que formam meu caráter. Ir contra a corrente geralmente não é uma atitude fácil. É tão mais fácil somente seguir o que é comum e aceito, não é mesmo? Mas responda: você se julga capaz de decidir-se com base em seus valores, e confrontar as críticas que provavelmente virão?

Por último, perguntei a mim mesmo como eu julgaria alguém que agisse assim, e lanço a você a mesma pergunta. Como você lidaria com o processo? Teria compreensão, imparcialidade, agiria de forma fria e insensível ou buscaria saber mais em nome da decisão mais justa possível?

Minhas respostas me levaram a refletir sobre como essas questões afetam nossa vida profissional ou empresarial. Em como as motivações e crenças individuais influenciam a rotina do dia a dia. Pensando nisso, convido você a pegar o papel com suas respostas e avaliar o impacto que suas considerações têm na sua rotina pessoal ou de trabalho.

Contudo, tanto faz se nos colocamos frente à situação como pessoas ou como gestores, temos a difícil missão de escolher no que devemos acreditar: se apenas nos atos e fatos como nos são apresentados no presente, ou nos atos e fatos repletos de intenções e motivações realizadas no passado, e então decidir a partir da escolha que fizermos.

É óbvio que é importante respeitar as regras e leis estabelecidas, e atos contrários a elas necessitam de reparação. Todavia, alguns fatos têm sua origem e sua motivação em razões não conhecidas por quem cabe julgar, ou ainda na comunicação deficiente que propicia crenças e convicções equivocadas e incompletas.

Porém, descobrir e entender o que nos motiva muitas vezes parece ser um desafio impossível de resolver. Contudo, existem ferramentas que são muito úteis para determinar os “porquês” por trás de nossas atitudes e comportamentos. Uma que considero muito interessante é a Técnica dos 5 Porquês.

Entenda que são as crenças e convicções que nos movem, que conduzem nossas atitudes. É o fato de acreditar que nos faz lutar e seguir em determinada direção. Quantas vezes fizemos algo que acreditávamos ser o correto a ser feito, porque naquele momento, a situação que vivenciávamos, aliada às informações que tínhamos disponíveis, indicava que aquele deveria ser o rumo de nossas ações, mesmo que aquele rumo nos encaminhasse para uma direção contrária ou diferente da estabelecida pela maioria.

A vida das pessoas não é diferente, nem nunca foi. Aliás, talvez exista uma única diferença: a atitude tomada depois de cada decisão. Algumas atitudes são consideradas nobres e honradas, outras nem tanto, por isso certas ações exigem coragem, tanto para executá-las quanto para assumi-las no futuro. Você executa as ações que acredita serem as corretas e depois assume cada uma delas, independentemente dos resultados, ou aproveita a sombra que o tempo lançou sobre aqueles eventos e sai de cena de fininho quando o resultado não é o esperado?

Entretanto, diariamente nas empresas, as posições de comando e suas consequentes atribuições e responsabilidades nos obrigam a olhar os fatos sob uma perspectiva diferente. Como gestores, é fundamental aprender a encontrar a resposta do porquê determinadas ações e atitudes foram tomadas, compreendendo o que as motivou.

Entender esse porquê possibilitará que conheçamos as crenças e convicções de nossos colaboradores, fornecedores e clientes. Isso é particularmente útil para melhorar nossa comunicação e tornar nossos planejamentos e estratégias mais eficientes e eficazes.

Talvez você esteja fazendo a mesma pergunta que me fiz: como conseguir fazer isso, como conquistar esse conhecimento? Eu acredito que a resposta esteja em não ter pressa em julgar. Julgar de forma justa nunca é algo muito fácil, principalmente quando o julgamento é executado de maneira superficial e precipitada, embora algumas vezes tenhamos essa impressão. Julgar com imparcialidade é buscar o esclarecimento que só se encontra conhecendo os fatos e suas motivações. Confesso que não considero isso algo simples ou fácil, mas considero ser necessário.

Tanto em nossa vida profissional quanto no meio empresarial, essa atitude propiciará produtos, serviços, fornecedores e clientes melhores, mais conscientes e possivelmente mais justos, além de um negócio mais alinhado com a realidade do mercado.

E você, é capaz de viver segundo suas crenças e convicções e aceitar que os outros façam o mesmo? É capaz de ser imparcial ou se permite julgar da forma mais fácil?

Traição ou consciência? A vida não é só preto e branco.

Comentário Final:

A reflexão central sobre as escolhas feitas com base em crenças e convicções pessoais pode ser relacionada a outros artigos, como [A vida passa rápido demais], que explora como decisões moldam a percepção do tempo, e também [Não é o fim do mundo…], que discute como crises podem ser encaradas de maneira positiva, sem julgamento precipitado. Além disso, a questão do julgamento e da imparcialidade remete a [Fora de contexto, qualquer parte da história vira um monstro], destacando a importância de compreender as motivações antes de formar opiniões.

Convite:

Se você também se interessa por refletir sobre esses desafios da vida pessoal e profissional, convido você a conhecer meus livros, onde abordo essas questões em mais profundidade. A mensagem sobre a importância de entender nossas crenças e convicções antes de agir é essencial para viver de maneira mais consciente e justa.

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A Essência Por Trás das Minhas Palavras

Integração Pessoal e Filosófica com Contexto Cinematográfico

Quando escolhi o filme A Espiã Vermelha (Red Joan), não o usei apenas como um ponto de partida para a análise de sua narrativa. Para mim, ele se tornou uma lente através da qual consegui explorar questões filosóficas e morais mais amplas, como traição, motivação e julgamento. O fato de ser uma história baseada em eventos reais, na verdade, não era o mais importante. O que me fascinou foi a forma como a trama me permitiu refletir sobre a natureza humana e as questões éticas que todos enfrentamos no dia a dia. Em vez de simplesmente falar sobre o enredo do filme, busquei entender o que aquelas escolhas e dilemas representavam no contexto da vida real.

Exploração de Motivações Profundas e Opressivas

Ao analisar as escolhas da personagem principal, procurei ir além da superfície. Não quis apenas ver a traidora, mas busquei entender o que a movia internamente. A personagem agiu com uma motivação moral, um objetivo maior: o de equilibrar o poder nuclear global, mesmo que suas ações fossem vistas de outra maneira por muitos. Nesse processo, refleti sobre a complexidade da traição e o quanto ela poderia ser reavaliada dependendo das intenções e circunstâncias. O que me interessava era mostrar que, por trás de ações que parecem erradas à primeira vista, existem camadas mais profundas, ligadas a valores e contextos que precisam ser considerados. Essa reflexão não foi apenas uma defesa de escolhas questionáveis, mas uma tentativa de humanizar decisões difíceis e de oferecer uma visão mais empática sobre a moralidade, longe de uma visão simples de certo ou errado.

Questões Profundas sobre Adaptabilidade, Conflito de Convicções e Coragem

Em minha análise, procurei explorar como, muitas vezes, reagimos quando nossos esforços não são reconhecidos ou quando nossos princípios são desvalorizados. Refleti sobre a coragem necessária para sustentar nossas convicções, mesmo quando isso significa nos afastarmos da corrente dominante ou perdermos algo no processo. Para mim, essa discussão sobre coragem moral vai além da busca por heroísmo externo. Ela está mais voltada para o enfrentamento dos nossos próprios dilemas internos, os questionamentos sobre o que realmente acreditamos e como nos mantemos firmes diante dos obstáculos. Esse é um ponto crucial que tentei abordar: como, muitas vezes, a verdadeira coragem está em manter a integridade pessoal, mesmo quando isso nos coloca em confronto com o mundo exterior. Eu quis destacar como as decisões cotidianas, embora pequenas, podem ser tão desafiadoras quanto grandes gestos heroicos, exigindo uma reflexão interna constante sobre quem somos e o que defendemos.

Integração de Questões Profissionais e Pessoais no Contexto de Gestão

Ao refletir sobre as motivações e crenças que influenciam nossas decisões, percebi que isso não se aplica apenas ao campo pessoal, mas também ao profissional, especialmente no contexto da gestão. As escolhas éticas, os dilemas morais que enfrentamos no nosso dia a dia, são diretamente influenciados pelas nossas crenças pessoais, e isso também molda como nos relacionamos e lideramos em ambientes de trabalho. Em minha análise, busquei trazer essa conexão entre o mundo pessoal e o profissional, destacando como líderes e gestores podem – e devem – ser mais conscientes das motivações e valores de suas equipes para estabelecer uma comunicação eficaz. No fundo, eu quis mostrar que a ética não é algo separado do nosso trabalho, mas uma parte integrante dele, que influencia nossas decisões e a maneira como lidamos com os outros no ambiente corporativo.

Uso da Técnica dos 5 Porquês e a Questão das Crenças e Convicções

Quando mencionei a Técnica dos 5 Porquês, o objetivo foi trazer uma abordagem mais prática e sistemática para explorar as motivações humanas. Essa técnica, que normalmente é usada em contextos empresariais para resolução de problemas, me pareceu perfeita para aprofundar a análise de nossas ações e decisões pessoais. O que me chamou atenção foi a possibilidade de aplicar essa metodologia não apenas para encontrar soluções rápidas, mas para entender melhor a complexidade das decisões morais e éticas que tomamos. A ideia de ir além da superfície e questionar as razões subjacentes das nossas atitudes me parecia essencial para compreender o verdadeiro impacto de nossas escolhas, especialmente aquelas com implicações morais mais profundas.

O Chamado à Reflexão Imparcial e à Não-Julgamento Apressado

Por fim, sempre achei importante destacar a necessidade de não julgar precipitadamente. Em um mundo tão polarizado, com tantas opiniões rápidas e juízos apressados, meu convite foi para que as pessoas se esforcem para entender as motivações do outro antes de formar uma opinião. Isso se aplica não apenas às nossas interações cotidianas, mas também ao ambiente corporativo, onde decisões rápidas e julgamentos precipitados podem prejudicar a dinâmica de trabalho e a confiança entre os colegas. Ao sugerir que busquemos sempre a compreensão antes de julgar, tentei trazer um ponto crucial para a discussão moral contemporânea. Essa postura de imparcialidade, de tentar entender a fundo os motivos dos outros, é, na minha visão, uma prática profundamente necessária no mundo de hoje, especialmente em tempos de divisões e polarizações extremas.

Conclusão

Ao final, o que busquei foi integrar de maneira fluida e profunda os conceitos filosóficos e morais com as questões cotidianas, usando um filme como ponto de partida. Para mim, a conexão entre a ética, a psicologia das motivações e suas implicações no ambiente profissional – especialmente na gestão – foi um ponto que queria explorar de forma prática e aplicada. O que considero mais importante na minha reflexão é justamente essa mistura entre filosofia e vida cotidiana, tratando de dilemas éticos e morais de uma maneira muito mais próxima das experiências pessoais, das decisões diárias que todos enfrentamos. Ao invés de um discurso abstrato sobre ética, busquei trazer uma abordagem mais vivencial e aplicada, que acredito ser uma contribuição valiosa para essa discussão.