
O outra lado da moeda…
Ano 2020. Logo no seu início, fomos pegos meio que de surpresa por uma crise sanitária que mostrou rapidamente a que veio, transformando-se em pandemia. Entretanto, ela estava do outro lado dos oceanos e nos parecia mais do que distante, parecia somente como outra notícia que acontecia do outro lado do mundo. O que todos esquecemos é que vivemos em um mundo só e que as fronteiras servem apenas para pessoas e produtos, sendo que o resto nem sequer toma conhecimento destas divisões geográficas e um tanto burocráticas.
E então, aquelas histórias de outros povos distantes começaram a fazer parte do nosso dia a dia e palavras como pandemia e isolamento iniciaram um processo de ressignificação de conceitos, onde as ordens do dia era ficar em casa, manter distância e trabalho remoto.
A tudo isso, e suas inevitáveis consequências, foi chamado de “novo normal”. Contudo, este novo normal está igual ao antigo normal, com a diferença de que são poucos os que conseguem prever um futuro além de alguns poucos meses, e como sempre foi, a resposta para isso está na capacidade de reação rápida baseada no tripé planejamento, investimento, ação.
Entretanto, este novo normal não é um sistema igualitário, onde todos tem os mesmos acessos a recursos e oportunidades. O que aconteceu de fato foi que, nós e nossas empresas, fomos pegos de surpresa e consequentemente não estávamos preparados para o que viria depois – a continuidade da pandemia e seus efeitos, sem prazo definido.
Escrevi este artigo originalmente no dia 5 de novembro de 2001. Isso mesmo, há cerca de 20 anos. O que é curioso é que, embora seja desta vez uma crise sanitária, os resultados e consequências desta crise são estranhamente similares a outros momentos de nossa história recente.
Em 2001, fomos todos obrigados a mudar nossos hábitos diários de consumo de energia. A crise era o risco do “apagão”, um corte de energia elétrica em todo o país. Estávamos no final do segundo mandato de governo do presidente Fernando Henrique Cardoso (FHC), e os principais motivos para a crise energética eram a falta de planejamento no setor e a ausência de investimentos em geração e distribuição de energia.
E essa crise passou para os livros de história, permanecendo viva na memória de poucos. Afinal, para que ficar lembrando os momentos ruins, não é mesmo. Então, chegamos à crise financeira global de 2007–2008, que começou nos Estados Unidos e levou um tempinho para chegar até aqui, mas nos atingiu como uma pedrada, e nem bem tínhamos nos adaptados aquele novo normal, entramos na crise político-econômica de 2014. Também conhecida como a “grande recessão brasileira”. Este período recessivo iniciado em 2014 ainda mostrava seus efeitos danosos em nossas vidas, quando fomos atingidos em cheio pela crise causada pela Pandemia de COVID-19.
Mais uma vez o que faltou foi planejamento e investimento, mas poucos falam disso.
Tem-se noticiado muito sobre desemprego. Milhares de cidadãos, pais de família desempregados, um enorme problema social. Mas que me perdoem esses cidadãos, eles não são o problema. Muito menos a sua situação. Desemprego não é o problema. Desemprego tão pouco é a causa de problemas sociais.
O real problema está no emprego, ou melhor, na falta dele. Mas isso poderia ser chamado de desemprego, diriam alguns. Bem talvez sim, talvez não. Eu, pessoalmente, acredito que não.
Um problema, ao ser traduzido para uma definição simples, é a diferença entre o que existe de fato e o que se espera de verdade.
Falta de emprego não é desemprego.
Desemprego é a situação de não se estar trabalhando em um determinado período.
Falta de emprego é a incapacidade das empresas de assumirem os custos e encargos necessários para a produção, entre eles, a mão-de-obra. Isso é grave.
Tem-se falado de assistencialismo aos desempregados, mas que assistência recebe a classe geradora de empregos?
A classe empresarial participa de uma luta silenciosa, em que cada empresário tenta, algumas vezes em vão, se manter acima da linha d’água, mas a maioria já começou a beber água, e faz tempo…
Somos os vilões. Acusados de não colaborar com o racionamento, de criticar o governo, de não pagar impostos e ainda reclamar da crise que alguns insistem em dizer que não existe ou que é menor que parece.
Quando iniciamos o processo de demissão de vários empregados, que ao contrário das grandes empresas nós conhecemos pelo nome, somos acusados de insensíveis. Mas ninguém que não tenha passado por essa situação pode imaginar o que vai em nossos corações e nossas cabeças.
– Quem eu mando embora? O Zé!? Poxa! Mas o Zé tem família. Não, o Zé não! Já sei! Vai o Pedrinho. Ele tem poucos meses e é bem novo. Peraí! Ele casou a pouco e tem um filhinho pequenino com problemas de saúde. E agora? Como isso é difícil…
Insensível? Pois, sim! Insensível é o nosso governo que nos obriga a reduzir nossa capacidade produtiva, nos impõe uma sobretaxa na conta de energia elétrica, depois fica com “peninha” das distribuidoras, que estão tendo prejuízo com o racionamento e dão uma autorização para aumento das tarifas. Cortesia com o chapéu dos outros é fácil!
Tenho me perguntado constantemente: – Todo esse esforço vale a pena? Ser empresário no Brasil ainda é uma coisa boa? Honestamente eu não sei, mas o importante é continuar tentando.
Parar é assumir a derrota em uma luta e imediatamente entrar em outra bem mais difícil e concorrida (até mesmo porque, enquanto estamos nos movendo nós não afundamos).
Se você está empregado dê graças a Deus, se não está, antes de pedir um emprego novo, peça que Deus dê juízo e ilumine a cabeça de nossos governantes, caso contrário a concorrência poderá aumentar com uma nova classe de desempregados: os desempresários.
Diz um ditado antigo que certas relações são curiosas, pois quem está fora quer entrar e quem está dentro, quer sair. Vistas de fora, as relações empresariais são simples de serem geridas, mas não é bem assim. Temos uma legislação complexa e extensa, uma carga tributária pesada e quase nenhum incentivo ou facilidade.
Como gestores, cada vez mais precisamos estar atentos às mudanças, além de minimamente preparados para as intempéries que certamente virão. Contudo, planejar e investir não costumam fazer parte do vocabulário da maioria das empresas e profissionais. O que permanece firme neste vocabulário são os prazos, cada vez mais curtos, especialmente quando o assunto é adaptação às mudanças.
É! O outro lado da moeda também é duro e frio…
Comentário Final
O texto apresentado reflete uma análise profunda sobre as crises recorrentes que, ao longo dos anos, afetaram a sociedade brasileira, com ênfase nos aspectos econômicos e sociais que resultam da falta de planejamento e investimento. O autor, ao traçar um paralelo entre as crises passadas e a pandemia de COVID-19, busca alertar sobre os problemas sistêmicos que persistem ao longo do tempo, com destaque para a falta de preparo das instituições e a escassez de apoio às classes empresariais que, ao contrário do que muitos imaginam, também enfrentam desafios imensos. O ponto crucial do texto é a reflexão sobre a diferença entre desemprego e a falta de emprego, com uma crítica contundente ao sistema que prejudica, de forma silenciosa, os empreendedores e sua capacidade de gerar trabalho. A linguagem é intensa e emocional, e o autor convoca o leitor a repensar o papel do governo, das empresas e da sociedade diante da constante incerteza.
Convite
Convido você a se aprofundar mais sobre essas questões e outras reflexões importantes para a compreensão do nosso cenário atual. Em meus livros e artigos, busco tratar com seriedade os desafios que enfrentamos em nossa trajetória, além de oferecer perspectivas sobre como podemos agir para transformar a realidade à nossa volta. A reflexão que você encontrou aqui é apenas uma amostra do que você poderá encontrar em minhas obras, que trazem à tona temas como o impacto das crises econômicas, a gestão empresarial em tempos de incerteza e os caminhos possíveis para um futuro mais sustentável e justo. Não deixe de conferir e de participar dessa conversa! A sua visão pode ser a chave para encontrar soluções inovadoras e transformadoras.

A Essência Por Trás das Minhas Palavras
Perspectiva Histórica e Cíclica das Crises
Refletindo sobre as crises que vivemos, percebo que há um padrão quase inevitável se desenhando diante de nós. Ao analisar o passado, as crises de 2001, 2007-2008 e 2014, por exemplo, é impossível não ver o ciclo se repetindo, como se estivéssemos presos a uma rotina de crises que acontecem de tempos em tempos. Essa percepção não é apenas sobre as crises em si, mas sobre algo mais profundo: nossa falha coletiva em aprender com os erros e traçar um caminho mais seguro e sustentável. A falta de planejamento estrutural, a ausência de investimentos sólidos, fazem com que, inevitavelmente, nos arrastemos de uma crise a outra. Ao falar sobre esses eventos, meu objetivo não é apenas registrar o que aconteceu, mas apontar essa falha sistêmica que insiste em se repetir. É preciso ver essa conexão sendo feita em discussões que geralmente se concentram apenas na crise do momento, como se fosse um fenômeno isolado, quando, na verdade, elas são partes de um ciclo que parece não ter fim.
Distinção Entre “Desemprego” e “Falta de Emprego”
Muitas vezes, olhamos o problema do desemprego e achamos que ele é a verdadeira raiz da questão. Mas, ao refletir mais profundamente sobre isso, me dei conta de que o que realmente está em jogo é algo mais complexo: a falta de oportunidades reais de trabalho. O desemprego, como uma estatística fria, não revela a verdadeira questão. O que realmente acontece é que as empresas, pressionadas por uma carga tributária excessiva, uma regulação complexa e custos operacionais elevados, simplesmente não conseguem gerar empregos suficientes. Essa distinção é fundamental, pois nos leva a questionar não só o número de desempregados, mas as barreiras estruturais que impedem o crescimento da economia e a criação de empregos. A reflexão sobre essa dinâmica é uma das questões centrais que raramente aparece em debates populares, onde se foca no problema como uma crise temporária e se propõe soluções superficiais. Mas, por trás disso, há algo muito mais complexo que merece ser abordado.
Empatia Empresarial em Tempos de Crise
No calor das crises, os empresários frequentemente são vistos sob uma luz negativa, como vilões distantes que apenas buscam o lucro. Mas, ao analisar a situação de um empresário enfrentando decisões difíceis, percebo que a realidade é bem mais humana e complexa. A decisão de cortar empregos, por exemplo, não é tomada sem uma grande carga emocional. Como poderia ser diferente? Para um empresário, demitir alguém não é uma ação simples e impessoal. Existe dor, existe a luta interna, existe o peso da responsabilidade. Tentei, em minha reflexão, dar visibilidade a esse lado humano, mostrando que o empresário também é um ser que lida com medos, angústias e frustrações diante de decisões que, muitas vezes, parecem intransponíveis. Em discussões sobre crises econômicas, se tende a polarizar as figuras dos empresários, sem perceber a complexidade emocional por trás de suas escolhas. Ao abordar essa perspectiva, tentei criar um espaço de empatia, para que possamos entender melhor a realidade desses indivíduos que, muitas vezes, acabam sendo estigmatizados.
Crítica à Falta de Incentivos ao Empreendedorismo no Brasil
O verdadeiro desafio que os pequenos e médios empresários enfrentam no Brasil vai muito além das crises temporárias. O que realmente dificulta a vida do empresário no país são os custos operacionais elevados, a complexidade do sistema tributário e a falta de suporte efetivo por parte das instituições. Não estou apenas criticando a crise em si, mas a estrutura que mantém esse ciclo vicioso de dificuldades para quem tenta empreender. Quando questiono, de forma sincera, se vale a pena ser empresário no Brasil, não estou apenas fazendo uma crítica econômica; estou trazendo à tona uma dúvida existencial que muitos empresários enfrentam todos os dias. Essa dúvida raramente aparece nas análises econômicas, que tendem a focar apenas em estratégias e soluções. É preciso que exista um espaço para refletirmos sobre o peso emocional e as incertezas que cercam a decisão de empreender em um sistema que constantemente coloca barreiras e dificulta o crescimento.
Reflexão sobre o “Novo Normal” e a Continuidade do Sistema
Quando a pandemia chegou e todos começaram a falar sobre o “novo normal”, uma sensação de transformação radical tomou conta das discussões. Mas, ao refletir sobre isso, percebi que, na verdade, o que mudaram foram apenas as nossas percepções sobre o que é considerado “normal”. As mudanças foram superficiais, mudanças de hábitos, adaptações temporárias. O sistema econômico e social em que vivemos, no fundo, não se alterou de maneira significativa. A verdadeira transformação que tanto se falou nunca aconteceu. O que houve foi uma adaptação, uma mudança na maneira como passamos a enxergar o mundo. No entanto, os fundamentos permanecem os mesmos. A crítica ao conceito de “novo normal” se faz necessária porque ele tenta pintar uma ilusão de que houve uma transformação substancial, quando, na verdade, estamos apenas lidando com uma mudança de percepção, mas os problemas estruturais continuam presentes.
Conclusão
As crises econômicas, o desemprego, a figura do empresário e até o conceito de “novo normal” foram analisados sob uma ótica que busca não apenas descrever a realidade, mas compreender as suas causas mais profundas. Não se trata de um discurso técnico ou frio; é uma tentativa de humanizar esses temas, de explorar as emoções, os dilemas e as complexidades que muitas vezes ficam escondidas por trás das grandes estatísticas. Minha intenção é convidar o leitor a repensar as dinâmicas que moldam nossa sociedade, a refletir sobre as causas estruturais e emocionais que influenciam nossas vidas econômicas e sociais, e, quem sabe, a encontrar maneiras mais eficazes e justas de enfrentá-las.