A Jornada Necessária em Tempos de Crise
Alguns momentos são especialmente assustadores. Uns são intensos, rápidos e passageiros, enquanto outros insistem em alongarem-se mais do que deviam. Algumas vezes originados de nossos próprios medos e convicções, outras somos feitos reféns de circunstâncias oriundas de ações e atitudes de terceiros e há ainda aqueles momentos em que o universo simplesmente resolve nos pregar uma peça e produz um evento, normalmente calamitoso, que nos atinge diretamente e nos obriga a repensar, a reorganizar e, em certos momentos, reaprender a viver.
Temos até mesmo um nome para isso, que confesso, considero um tanto genérico, mas que expressa bem estes momentos, independentemente de sua origem. Nós chamamos de crise.
Toda crise divide as pessoas em 2 grupos.
De um lado temos os negacionistas, os pessimistas, os céticos, os reacionários e os desesperados.
Do outro temos os cientificistas, os otimistas, os dogmáticos, os vanguardistas e os esperançosos.
Os negacionistas não acreditam na crise.
Os pessimistas acreditam que tudo está muito ruim, mas acreditam também que tudo vai piorar.
Os desesperados — ou desesperançados — veem em qualquer evento um sinal apocalíptico.
Os céticos não acreditam que a crise exista e ponto final.
O reacionários resistem à ideia.
Do outro lado, os vanguardistas não têm tempo para a crise porque já passaram do ponto onde a crise se instalou e seu cronograma acelerado não permite recuos, mesmo que seja só por curiosidade.
Já os otimistas são entusiasmados e continuarão com suas vidas porque acreditam que toda essa situação é temporária ou passageira e que em breve tudo voltará ao normal.
Temos também os cientificistas que, embora acreditem nos fatos que geram a crise e reconheçam sua gravidade, também acreditam que em algum momento tudo vai se resolver e seu mundo voltará a normalidade porque é isso que indicam as projeções.
Os dogmáticos e os esperançosos acreditam que a crise existe e que isso é uma verdade indiscutível, entretanto também acreditam que reconhecer que um problema existe já é metade da solução, bastando então conhecer a outra metade.
Todavia, não importa em qual grupo você se enquadra, quando uma crise se instala é preciso assumir um comportamento novo e praticar ações e atitudes inovadoras, muitas vezes não convencionais, visto que mais do mesmo não irá adiantar e na maioria das vezes foi exatamente o que nos colocou nesta situação.
Nestes momentos é preciso, no mínimo, rever paradigmas, é comum precisarmos nos reinventar. É exatamente aqui que os fantasmas aparecem e também nos lembramos que existem esqueletos escondidos à espreita.
Mais precisamente, você precisa confrontar seu fantasmas e enfrentar os esqueletos que guardou no armário, para só então continuar em frente.
Bem, acredito que este comentário necessita de alguma forma de explicação. Então vamos lá.
Os fantasmas são nossos medos e receios, e os esqueletos são tudo que fizemos ou vivemos e não nos orgulhamos e, consequentemente, queremos esconder, de preferência para sempre, ou seja, são basicamente nossos temores e preocupações em relação ao nosso passado e ao nosso futuro.
Todavia, enquanto nos ocupamos com o que já se foi e com o que poderá ser, a crise está acontecendo no presente, está acontecendo no agora.
Você talvez esteja pensando que para mim, é fácil falar, afinal não sei o que você já passou e o quanto foi difícil superar tudo o que já viveu e tão pouco sei como é conviver com as marcas que essas situações deixaram.
Todavia, acredite, eu também tenho minhas próprias marcas e elas são tão profundas e definidas como as marcas de qualquer outra pessoa, até mesmo como as suas.
Entretanto, vivemos somente no agora, vivemos neste exato instante, um segundo de cada vez, seguindo um interminável ‘tic, tac’ e, excetuando o fato que nossos medos e preocupações contribuem para a formação de nosso caráter e de nossa personalidade, ficarmos presos ao passado e ao futuro só aumenta a possibilidade de nos tornarmos reféns da crise que encontramos no agora.
Por isso, é imprescindível confrontar nossos fantasmas, confrontar nossos medos impedindo-os de nos paralisar. Criei um ditado para exemplificar esse contexto:
“Você pode ter medo do escuro, mas isso não pode lhe impedir de andar à noite.”
Também é fundamental enfrentar os esqueletos que colocamos no armário. É preciso aceitar que o que passou, passou e o que fizemos está feito, não há como mudar esse fato. Podemos, no entanto, procurar aprender com nossos erros e procurar não cometê-los novamente.
Durante uma crise, um comportamento novo serve de base para a prática de ações e atitudes inovadoras que contribuirão para superarmos o momento, porém este comportamento somente se sustentará se não existirem conflitos internos instilados por nossos fantasmas e esqueletos.
É preciso acreditar, ou melhor, é preciso não ter dúvidas sobre o que é necessário ser feito e isso só é possível quando estamos imbuídos de coragem e, apesar do medo e da preocupação, continuarmos em frente. Por outro lado, é preciso aprender com nossas falhas e evoluir, tanto como pessoas quanto como profissionais.
Confiança, Coragem e Certeza. Estes 3 C’s são a fórmula. O resultado é que nos tornamos elegíveis a conquistar o presente e continuarmos em frente, um dia de cada vez, em direção ao nosso futuro de sucesso.
Talvez você tenha se perguntado porque conquistar o presente e não o futuro. A resposta é simples: porque nós só vivemos no presente.
“—E os vanguardistas, não vivem e experimentam o futuro?” — argumentaria você.
Bem, o futuro que você percebe é o presente para quem está na vanguarda. Eles, assim como todos nós, também vivem um dia de cada vez, contudo, suas escolhas e decisões os levaram a ficar alguns passos à nossa frente no mesmo caminho que todos nós trilhamos. Os motivos pelos quais isso acontece costumam ser fáceis de identificar e normalmente são baseados em um maior empenho por parte de quem está na frente. Por exemplo: avaliaram melhor as abordagens dos problemas, estudaram e se prepararam com mais disciplina e determinação ou simplesmente continuaram a caminhar onde a maioria decidiu parar para descansar.
O que para a maioria parece o futuro, ao contrário é o resultado da equação confiança, coragem e certeza, aplicada por quem decidiu enfrentar os seus fantasmas e confrontar seus esqueletos.
Aproveito para advertir que esse enfrentamento e esse confronto não é nada simples ou fácil, não é algo destinado aos meramente destemidos, porque não temer fantasmas nem esqueletos não os faz mais fortes ou preparados, pelo contrário, só os tornará superficialistas e os manterá exatamente no mesmo local e direção na estrada.
Como gestores, é importante entender o conceito acima. Enfrentar e confrontar a nós mesmos nos permite evoluir. Evolução é um processo gradual de transformação, de progressão, de atualização, e ao final de cada ciclo, recomeçamos a aprender e a progredir, atualizando-nos incessantemente, o que faz com que para todos os outros pareça que quem está na vanguarda está em um futuro inalcançável para a maioria.
Embora as empresas, ou mesmo pequenos negócios autônomos, sejam considerados uma espécie de corpo inanimado, algo criado e estruturado para um fim determinado, apenas identificado por um CNPJ, elas estão encharcadas de emoções e conflitos, recheadas de medos e preocupações, segredos e ocultações que todos gostariam de esquecer e que influenciam diretamente na performance e na produtividade do negócio, e até mesmo em sua relação com os fornecedores e clientes.
Isso acontece porque um negócio é feito de e com pessoas, e sendo assim podemos perceber o quão importante são alguns termos como clima organizacional e código de ética.
Ainda como gestores, é nossa obrigação criar ou encontrar mecanismos que auxiliem a enfrentar os medos que surgem no dia a dia do negócio. É preciso espantar os fantasmas antes que assombrem os colaboradores, cuidando sempre para que não venhamos a ficar paralisados em meio a uma crise.
No meio empresarial, os 3 C’s podem ser conquistados e principalmente mantidos através da disseminação de informação relevante e da comunicação clara. É a segurança perceptível de que o negócio vai bem e que tem futuro que gera a confiança necessária para enfrentar os fantasmas.
Quanto aos esqueletos, uma empresa que possua um código de ética estabelecido, reconhecido e respeitado, além de posturas comerciais e comportamentais pré-estabelecidas, terá pouco espaço para esqueletos. O confronto somente será necessário no caso do crescimento estar baseado em práticas comerciais predatórias ou atitudes abusivas, por exemplo.
Nestes casos, situações como essas necessitam muito mais do que somente o confronto. Exigem alguma forma de reparação.
Agora me diga, você enfrenta seus fantasmas e confronta seus esqueletos, praticando os 3 C’s ou apenas segue vivendo?
Seja qual for sua resposta, aceite que da mesma forma que todas as outras pessoas, o impacto da crise será visto como o Norte e apresentado como uma bússola que nos mostra a direção a seguir — o caminho da adaptação e da evolução.
Comentário Final:
A reflexão central deste texto sobre como enfrentar medos e traumas durante uma crise se conecta diretamente com outros artigos, como [“Nada de sobrenatural, apenas seus esqueletos e fantasmas”], onde a ideia de lidar com os desafios pessoais é explorada, e com [“Felicidade Insatisfeita”], que aborda como nossos desejos e medos nos mantêm em uma busca incessante por mais, dificultando a evolução. Da mesma forma, a necessidade de confrontar os fantasmas do passado ressoa com o conceito de revisão e aprendizado presente em [“Entre o agora e o nunca”], onde a importância de tomar decisões no presente é destacada como essencial para o progresso.
Convite:
Se você deseja se aprofundar na reflexão sobre como as crises podem nos tornar mais fortes, convido você a conhecer meus livros, onde compartilho ainda mais insights sobre como enfrentar os desafios da vida, sem medo e com coragem, para alcançar seu verdadeiro potencial.

A Essência Por Trás das Minhas Palavras
A Metáfora dos Fantasmas e Esqueletos
Ao usar a metáfora dos fantasmas e esqueletos, minha intenção foi justamente ilustrar os medos e as falhas do passado de uma forma que fosse ao mesmo tempo concreta e simbólica. Os fantasmas representam os temores que nos assombram e, por mais que tentemos ignorá-los, eles estão sempre ali, esperando para serem enfrentados. Já os esqueletos simbolizam os erros e falhas passadas que, embora enterrados, continuam a nos afetar de maneira invisível. Ambos precisam ser encarados se quisermos seguir em frente. Eu acredito que essa metáfora oferece uma maneira poderosa de mostrar que, para evoluirmos, precisamos encarar o que nos impede de avançar, o que fica escondido, mas que impacta profundamente nosso comportamento e nossas decisões. Para mim, é uma forma de trazer uma reflexão psicológica profunda de uma maneira acessível, e que pode tocar de forma emocional, tanto no âmbito pessoal quanto no coletivo.
A Simplicidade e a Profundidade do Conceito dos 3 C’s
Quando pensei nos 3 C’s — Confiança, Coragem e Certeza — queria apresentar uma maneira prática de lidar com as crises da vida, focando no que podemos controlar. São qualidades que eu queria juntar de uma forma que fosse direta e clara. Para mim, essas três palavras formam a base de qualquer superação. A ideia de que elas ajudam a “conquistar o presente” em vez de nos perdermos tentando prever ou dominar o futuro surgiu de uma reflexão sobre como nos distanciamos do agora, em busca de algo que ainda não aconteceu. Conectar esses três aspectos ao momento presente, e não a uma busca constante pelo que está por vir, foi algo que me pareceu essencial para vivermos de forma mais completa e mais consciente.
Aplicação da Teoria ao Mundo Organizacional
Ao falar sobre como as empresas lidam com seus próprios fantasmas e esqueletos, eu queria destacar o paralelo entre crises pessoais e os conflitos dentro das organizações. Muitas vezes, as empresas são tratadas de forma impessoal, como se fossem máquinas frias e sem vida, mas elas são compostas por pessoas com medos, falhas e questões não resolvidas, assim como qualquer ser humano. Quando propus a ideia de que um código de ética claro poderia ajudar a enfrentar esses “esqueletos organizacionais”, o que eu quis dizer é que, da mesma forma que precisamos lidar com nossos próprios fantasmas internos, as organizações também precisam encarar e resolver suas próprias falhas, para que possam se fortalecer e evoluir. Essa conexão entre o comportamento humano e o organizacional é algo que vejo como crucial para uma gestão mais humanizada e eficiente. As empresas precisam ainda ser espaços onde as pessoas possam lidar com suas próprias inseguranças e dificuldades, de maneira aberta e acolhedora.
Visão Personalizada do Futuro e a Conquista do Presente
Eu refleti bastante sobre como o futuro é percebido, especialmente em relação àqueles que estão na vanguarda. Quando eu disse que, para os vanguardistas, o futuro é o presente deles, estava tentando apontar uma visão mais filosófica sobre o agora. Muitas vezes, somos ensinados a olhar para o futuro como algo distante, um objetivo a ser alcançado. Mas, ao refletir sobre isso, percebi que o verdadeiro poder está em viver plenamente no presente. A ideia de que o futuro deve ser conquistado no presente não é apenas uma questão de estratégia, mas de viver o aqui e agora com mais intensidade, sem deixar que a obsessão pelo amanhã nos cegue para o que está ao nosso alcance hoje.