Uma Casa Dividida: O Impacto das Crenças na Sociedade e no Trabalho

Pare de dividir sua casa!

A Casa Dividida de Lincoln

Em 16 de junho de 1858, Abraham Lincoln, futuro presidente dos Estados Unidos da América, fez um discurso ao aceitar a indicação para concorrer ao Senado pelo Partido Republicano de Illinois. Este discurso mais tarde seria conhecido como o Discurso da Casa Dividida.

O texto do discurso é uma citação do Novo Testamento, Livro de Mateus, 12:25, e tornou-se referência sobre o perigo que o país corria ao estar desunido devido às diferenças de visão sobre a escravidão, tendo de um lado estados declaradamente escravocratas e do outro estados apoiadores do pensamento libertário.

A passagem mais conhecida do discurso é:

“Uma casa dividida contra si mesma não pode permanecer”. Eu acredito que este governo não pode suportar, permanentemente, ser metade escravo e metade livre. Eu não espero a divisão da União – Eu não espero ver a casa cair – mas espero que ela deixe de ser dividida. Ela terá que se tornar toda uma coisa ou outra.

Ou os adversários da escravidão irão deter a propagação da mesma, e a opinião pública deve repousar na crença de que deva ser extinta definitivamente, ou seus defensores irão estendê-la adiante, até que ela se torne legal em todos os Estados, velhos ou novos – Norte como no Sul.

— Abe Lincoln, 1858

 

Transição: E hoje, ainda vivemos divididos?

Talvez possa parecer estranho falar de escravidão em pleno século XXI, mas acredite que de certa maneira ela ainda existe e nos atinge diretamente. Ainda somos escravos de nossas paixões, de nossos ideais e de qualquer outra situação que transformemos em obsessão.

 

As novas formas de escravidão

Seja no campo político, seja no religioso e até mesmo no campo dos esportes, entre outros, basta acreditarmos que nossa opinião é a única correta, a única aceitável para colocarmos o poder de nos escravizar nas mãos de outro. E acredite que esse “outro” irá fazer uso deste poder.

Somos criaturas muito mais emocionais do que racionais, até porque atender às nossas emoções e desejos é muito mais divertido e prazeroso do que atender à razão.

 

Crenças que nos separam

Assim, de crença em crença, vamos sendo divididos.

Em 1858, a nação estadunidense estava dividida pela escravidão, ou melhor, estava dividida entre os que queriam manter seus escravos e os que os queriam libertos. O que era discutido e pelo que se travaram guerras era o direito à propriedade.

O que pouca gente sabe é que os escravos eram considerados animais, sim, isso mesmo, animais, sendo divididos basicamente em duas categorias: animais de carga ou tração e animais domésticos. Perceba que a crença instituída era de que aqueles escravos não eram pessoas, eram animais cuja propriedade podia ser comercializada e usada da maneira que melhor aprouvesse o proprietário.

 

Direitos, deveres e distorções

Atualmente somos divididos por outras crenças, mas todas elas contêm um fator em comum: a percepção do direito. Estas crenças partem do pressuposto de que devido à determinada característica, um grupo tem mais direito ou menos direito que outro grupo.

Alguns se consideram superiores e por isso acreditam que merecem mais, enquanto consideram os outros inferiores e por isso não merecedores de nada além do suficiente (e por vezes, nem disso).

Ah! Também existem os que se consideram inferiores e por este motivo acreditam que os merecedores são eles e que os outros não devem ter nada porque já têm demais.

 

Divididos por aparência, origem, religião…

Somos divididos por crenças baseadas na raça, no peso, na quantidade de dinheiro que temos, no Estado ou Região em que vivemos e também por nossas crenças religiosas, esportivas e políticas. Até mesmo se somos considerados feios ou bonitos, a crença extremada na importância da estética nos divide.

Em uma sociedade competitiva como a nossa é difícil conseguir estar acima de todas estas crenças limitantes e divisoras, todavia é fundamental buscarmos um meio termo que contemple o equilíbrio de direitos e deveres entre todos nós.

Afinal, quando alguém diz “Eu tenho esse direito!”, surge imediatamente a seguinte pergunta:

“E de quem é a obrigação?”

 

Divisões dentro das empresas

Em nossa vida profissional ou empresarial essas perguntas vêm carregadas de contornos bem inquietantes e que recebem nomes difíceis de interpretar, como discriminação, assédio e privilégios, por exemplo. Contornos que são determinados e acompanhados por Leis, entre outras regulações.

 

Clima organizacional e relações saudáveis

Como gestores, precisamos estar sempre atentos ao que ocorre nos ambientes de trabalho a nos subordinados, buscando manter o clima organizacional equilibrado, identificando e evitando concorrências internas e declarações de preferência desnecessárias entre setores, grupos ou indivíduos.

É óbvio que um sistema de competição interna saudável e bem orientado é importante para o crescimento da empresa, contudo é preciso tomar cuidado com a definição dos parâmetros de avaliação e, principalmente, com as métricas usadas nesta avaliação, assim como os programas de incentivo.

 

Educação para todos

Programas de estímulo educacional, por exemplo, devem ser abrangentes, possibilitando que tanto o pessoal administrativo quanto o pessoal técnico tenha acesso, evitando desta forma que somente um grupo seja capacitado e formado.

 

Unindo a casa: responsabilidade e ação

É fundamental trazermos para nós a responsabilidade de produzir um ambiente coeso e evitarmos iniciativas e atitudes que dividam a nossa casa. Existem algumas ferramentas capazes de auxiliar nessa missão, como por exemplo, o Regimento Interno e o Código de Ética.

Entretanto, é preciso tomar cuidado para não engessar a empresa colocando regras demais. O importante é declarar, seja através de documentos seja através de ações e atitudes, que a empresa preza o respeito ao outro, independentemente de suas características individuais ou do grupo a que pertença.

Obviamente, da mesma maneira que a gentileza, respeito gera respeito.

 

Para refletir e agir

Agora responda:

Você acredita que uma casa dividida contra si mesma pode permanecer?

Acredita poder suportar, permanentemente, ser metade escravo de suas paixões e de suas ideias e metade livre ou está buscando construir um ambiente e um mundo melhores?

Aproveito para deixar aqui, uma advertência de Lincoln:

“Se desde o primeiro momento conseguimos determinar onde nos encontramos e aonde nos dirigimos, poderemos julgar muito melhor o que temos de fazer e como fazê-lo”.

— Abe Lincoln, 1858

Comentário final

O texto apresenta uma reflexão poderosa sobre os desafios da divisão social e pessoal, utilizando o Discurso da Casa Dividida de Abraham Lincoln como base para explorar a persistência de crenças limitantes e divisoras, que ainda nos impactam profundamente no contexto moderno. A analogia entre a divisão do país nos tempos de Lincoln e as divisões contemporâneas por crenças políticas, religiosas, raciais e sociais é feita de maneira assertiva, mostrando como essas disputas e visões extremas geram um ambiente de opressão emocional e ideológica. A proposta de buscar um meio-termo, que contemple a equidade e a compreensão mútua, é um convite para construirmos uma sociedade mais coesa, onde as diferenças são respeitadas, não usadas como um fator de separação. O texto também traz à tona a importância de um equilíbrio entre direitos e deveres, dentro do ambiente de trabalho, e destaca como a responsabilidade individual e coletiva pode ser a chave para promover um espaço harmonioso.

Convite

Convido você a refletir mais profundamente sobre as lições que Abraham Lincoln deixou em seu discurso e a explorar como essas ideias podem ser aplicadas em nosso cotidiano. Conheça meus livros e outros artigos, onde compartilho mais sobre como superar as divisões internas e sociais, a importância do equilíbrio e do respeito, e como construir um mundo mais justo e unido. Juntos, podemos aprender a viver de forma mais consciente, superando as crenças limitantes e contribuindo para um ambiente de paz e harmonia. Não deixe de conferir essas leituras!

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A Essência Por Trás das Minhas Palavras

A divisão no tempo: do passado ao presente

Quando comecei a refletir sobre a divisão na sociedade, lembrei-me do Discurso da Casa Dividida de Abraham Lincoln. Esse discurso, proferido no contexto da escravidão, sempre me impactou profundamente. Mas o que torna esse discurso ainda mais relevante hoje é a percepção de que, apesar da distância histórica, o seu conteúdo permanece assustadoramente atual. No mundo de hoje, somos, de certo modo, aprisionados pelas nossas crenças, ideologias e paixões, o que cria uma divisão similar àquela que Lincoln abordou em seu tempo.

Ao fazer esse paralelo, não apenas trago à tona questões que nos afetam diretamente, como também revisito um momento histórico importante, como o impacto que as divisões de hoje podem ter em nossa convivência social.

Esse movimento entre passado e presente foi essencial para minha reflexão. A escravidão não é mais apenas uma questão de cativeiro físico, mas se transformou em algo mais sutil, muitas vezes psicológico e emocional. Quando penso nas “escravidões” de hoje, vejo como nossas próprias obsessões e paixões nos escravizam de maneiras novas e insidiosas.

As novas formas de escravidão

Essa percepção me levou a olhar para formas menos visíveis de cativeiro, que hoje habitam nossas rotinas, relações e convicções. Penso que um dos pontos mais impactantes dessa reflexão está na maneira como a escravidão não é apenas uma questão histórica, mas um reflexo do que ainda vivemos nas nossas próprias mentes e corações.

Quando comento sobre como nos tornamos “escravos” de nossas crenças e emoções, vejo isso como uma metáfora profunda e válida para o que acontece nos dias de hoje. O ser humano, como um dia foi propriedade de outro, continua, na atualidade, prisioneiro, mas não mais de grilhões, e sim das suas próprias ideias, dos seus valores e das suas divisões internas. Ao contrário das correntes físicas do passado, agora o aprisionamento se dá em níveis quase invisíveis — mas não menos opressivos.

Esse conceito me parece inovador, pois, ao invés de olhar apenas para a escravidão como um fenômeno do passado, vejo como ela se reflete nas disputas ideológicas e emocionais de nossa época. O que nos divide hoje não são apenas as linhas de classe ou raça, mas o que acreditamos ser certo, o que nos motiva e o que nos move. Essas divisões, muitas vezes invisíveis, são uma nova forma de escravidão, que nos impede de viver de maneira plena e coesa com os outros.

Divisões que se espalham

Ao pensar mais amplamente sobre essas divisões, percebi que elas não se restringem às grandes ideologias. Outro ponto fundamental que veio à minha mente foi a maneira como as crenças podem dividir as pessoas de forma tão profunda e, muitas vezes, impensada. A religião, a política, as estéticas e até mesmo as características físicas — como o peso ou a aparência — tornaram-se pontos de separação.

É impressionante como até julgamentos superficiais podem servir de muros entre as pessoas — basta observar uma interação cotidiana em redes sociais ou até em um ambiente informal de trabalho. Isso me fez perceber que as divisões não se limitam aos campos mais tradicionais de conflito, como a política ou a religião. Elas se estendem a todas as esferas da vida cotidiana, afetando desde o nosso ambiente de trabalho até as relações interpessoais.

Essa reflexão se expandiu à medida que eu percebia que, até em questões aparentemente triviais, as divisões podem surgir. As pessoas estão constantemente criando distâncias umas das outras com base em preferências pessoais, ideais ou até mesmo julgamentos superficiais. Pensar sobre isso me trouxe à mente a profundidade do problema, que é muito mais abrangente do que eu inicialmente imaginei.

Divisões no trabalho: o peso das crenças

Essa reflexão também me levou a observar como essas divisões se manifestam em outro campo importante: o trabalho. Ao conectar essas divisões com o ambiente organizacional, comecei a refletir sobre como as crenças pessoais podem afetar o trabalho em equipe e a harmonia dentro de uma empresa.

Quando penso nos gestores, é claro para mim que o ambiente de trabalho deve ser coeso, sem que as crenças ou preconceitos pessoais se projetem sobre a organização. Afinal, as empresas são compostas por indivíduos com histórias, valores e convicções diferentes — e ignorar isso é um erro estratégico e humano. O desafio é encontrar um equilíbrio entre os direitos individuais e as necessidades coletivas, criando uma atmosfera onde as divisões ideológicas não minem a eficácia do trabalho conjunto.

Esse ponto sobre como as crenças impactam diretamente a dinâmica organizacional me pareceu uma maneira poderosa de abordar as divisões que vivemos. No universo corporativo, muitas vezes, as questões emocionais e ideológicas são negligenciadas ou ignoradas, mas elas desempenham um papel crucial no sucesso ou fracasso de uma organização. Foi interessante perceber como as divisões internas, se não cuidadas, podem afetar profundamente o funcionamento de uma equipe.

Uma casa dividida pode permanecer de pé?

No fim, a pergunta que sempre me vem à mente é se uma casa dividida contra si mesma pode realmente permanecer de pé. Quando me deparo com essa questão, ela me provoca profundamente. Afinal, como podemos sustentar algo que está rachado internamente? Essa é a pergunta que norteia toda a minha reflexão.

Ao relembrar a citação de Lincoln, onde ele nos desafia a decidir em que direção queremos ir, percebo o quanto essa reflexão é importante. Estamos prontos para agir e construir um mundo mais unido? Ou continuaremos a permitir que nossas divisões nos enfraqueçam ainda mais?

Essa questão se torna um ponto de reflexão pessoal, não só sobre o contexto histórico de Lincoln, mas sobre o que eu faço, como indivíduo, para combater essas divisões em minha vida e na sociedade. Ela me instiga a buscar mais do que a compreensão intelectual; ela me chama à ação e ao autoconhecimento.

Entre a reflexão e a ação

No geral, minha reflexão sobre as divisões que ainda existem na sociedade me trouxe à consciência como elas continuam a nos separar, muitas vezes de forma invisível e silenciosa. As questões históricas podem parecer distantes, mas ao conectar esses temas com os desafios atuais, percebo como as divisões, tanto ideológicas quanto emocionais, afetam tanto os indivíduos quanto os ambientes organizacionais.

A capacidade de vincular um momento histórico com as questões contemporâneas de forma tão orgânica e provocativa me ajudou a entender melhor o impacto dessas divisões. Ao refletir sobre como elas enfraquecem a sociedade em vez de fortalecê-la, percebo o poder da autocrítica e da ação.

E, no fim, o que fazer diante de tudo isso? O equilíbrio pode ser alcançado, mas é preciso que cada um de nós, de forma ativa, busque superá-las para construir uma sociedade mais coesa e harmoniosa.