O Silêncio: O que a falta de som revela sobre a humanidade e a sobrevivência

Recentemente assisti ao filme O Silêncio (The Silence – 2019 – Netflix). É um filme classificado como ‘suspense’ e conta a história de uma família em fuga pela sobrevivência, depois que criaturas que estavam contidas no subterrâneo são libertadas.

Ah! Isso não é ‘spoiler’, é apenas um resumo da sinopse do próprio filme. Mas voltemos ao que interessa.

Depois que terminei de assisti-lo fiquei rememorando alguns trechos

e fazendo a famosa crítica do tipo o que faria no lugar daquele personagem sem noção na cena tal, entre outras considerações, e no fim declarei que gostei do filme.Todavia, três aspectos do filme me chamaram a atenção particularmente:

  1. a) a questão da surdez,
  2. b) o que é a humanidade, e
  3. c) a relação entre conhecimento e iniciativa em crises.

Como o próprio título do filme sugere, é necessário para a sobrevivência que as pessoas façam completo silêncio, o que talvez seja um dos maiores desafios dos dias atuais. Estamos tão acostumados com o barulho em nossas rotinas diárias que não notamos a enorme quantidade de sons que nos cercam.

São ‘bips’, ‘blops’, ‘tuns’, roncos, rangeres e zumbidos o tempo todo, isso sem contar a música, as conversas, gritos, sussurros e todos os outros sons tidos como naturais, como o vento e os sons dos animais, entre inúmeros outros.

O completo silêncio é algo tão estranho para nós que é muito comum ficarmos surpresos quando acordamos na madrugada e não ouvimos ou percebemos som algum, ficando apenas aquela sensação um tanto incômoda de vazio, como se estivesse faltando algo.

Na história, a família passa a se comunicar através da língua americana de sinais (ASL, da sigla em inglês). O que despertou minha atenção foi o fato, ou seja, a forma de comunicação por sinais e sua relevância naquele contexto.

A ASL é para os norte-americanos o equivalente da Libras – Língua Brasileira de Sinais e, assim como acontece por aqui, lá também é uma linguagem subvalorizada e subaproveitada, contudo, dada a necessidade em fazer silêncio como prerrogativa para sobreviver, o que antes era discriminado e até meio marginalizado se tornou rapidamente o meio principal de comunicação.

Embora o filme não mostre isso, ao expandir hipoteticamente a situação da necessidade de silêncio completo para toda a sociedade sob risco de morte, eu percebi como uma realidade pode mudar quase instantaneamente ao introduzirmos um novo elemento, neste caso as criaturas, e ao fazermos isso os critérios de adaptação se ajustam, agora falar não é mais importante para a comunicação e o imprescindível passa a ser a sinalização coordenada e inteligível, cuja maior forma de expressão é a língua de sinais.

Isso é uma mudança de paradigma onde o que antes era colocado em uma posição secundária e relegada a uma minoria, agora passar a ter um caráter fundamental e prioritário.

A segunda questão trata sobre o contexto da humanidade. A maioria dos dicionários traz a seguinte definição: “natureza humana; reunião das características que são particulares à natureza humana”, ou seja, isso não explica muita coisa e talvez seja exatamente por isso, por ser tão difícil definir o que é o homem realmente, que a humanidade de fato se apresente como algo tão frágil e até mesmo superficial.

Em termos simples, essa humanidade é o que nos difere e afasta dos outros seres viventes neste planeta.

O curioso é que em qualquer filme apocalíptico, e neste não foi diferente, quando tudo dá errado e sai da normalidade, a primeira característica que os personagens comuns perdem é a humanidade e, em nome da autopreservação e da sobrevivência, tornam-se capazes até mesmo das piores atrocidades.

Nestes filmes agimos respondendo aos instintos básicos de sobrevivência, segurança e procriação e somos mostrados com uma ferocidade digna dos maiores predadores.

Contudo, será que nos comportamos de forma diferente em nosso dia-a-dia ou também perdemos nossa humanidade tão facilmente quanto na ficção?

Basta assistir aos telejornais diários, ler um jornal ou livro de história do mundo para ter essa dúvida aumentada. Ao longo da história humana perdemos nossa humanidade um sem número de vezes e não só em grandes eventos, mas também nas ações e atitudes individuais.

A última questão, sobre conhecimento e iniciativa em crises, me chamou a atenção pela incapacidade dos personagens em ver o obvio.

Saber usar o conhecimento que se tem é sinal de inteligência e quanto melhor for o uso dado, mais inteligente o indivíduo é considerado. Todavia, de nada adianta ser considerado inteligente ou mesmo somente ter muito conhecimento acumulado se não possuirmos a iniciativa de colocá-lo em prática, especialmente em crises.

E o filme demonstra isso nitidamente ao expor a família à situações onde as resoluções obvias não são executadas por mera falta de iniciativa no tempo exigido pelo fim do mundo e, neste caso, quanto menos iniciativas, mas rapidamente ele chega. É só uma questão de tempo.

Em resumo, quebra inesperada de paradigmas, fragilidade de conceitos e falta de iniciativa no tempo certo colocam em risco a sobrevivência, tanto individual quanto coletiva.

Do ponto de vista empresarial não é diferente. Quando surgem novidades que são assimiladas rapidamente pelos consumidores, os fornecedores das antigas soluções costumam reagir negativamente e em diversos casos com violência; um bom exemplo dessa situação é o conflito, taxistas contra serviços de aplicativo.

O aplicativo quebrou o paradigma do transporte de passageiros, demonstrou a fragilidade do conceito anterior que está sendo rapidamente suplantado e expôs a falta de iniciativa dos taxistas, tanto em adaptar-se a nova realidade disponibilizando um serviço mais barato e com melhor qualidade, quanto se organizando enquanto categoria para fazer frente à mudança no tempo devido, e esse tempo já passou.

E não foram só eles, basta uma breve pesquisa na internet para descobrir quantas profissões e empresas foram substituídas e desapareceram e, conforme as tendências, quantas profissões têm seu futuro e sua existência ameaçados.

Seja você um gestor ou um profissional, está preparado para uma mudança inesperada, o que, aliás, de inesperada geralmente não tem nada, visto que existem quase sempre sinais de alerta antes da mudança e o mais comum deles é o aumento significativo do número de reclamações por parte de clientes e usuários, ou você é daqueles que perde sua humanidade e ataca os concorrentes ao invés de se adaptar, evoluir e proteger a família?

Você conseguiria viver em completo silêncio ou ficaria fazendo ainda mais barulho por nada?

Comentário Final:

O texto faz uma análise instigante sobre o filme O Silêncio, utilizando a narrativa apocalíptica como um ponto de partida para discutir temas profundos sobre a sociedade, a humanidade e as dinâmicas de mudança. A reflexão sobre a necessidade de adaptação, tanto no contexto do filme quanto na realidade do mundo moderno, é bem construída e extremamente relevante. Ao abordar o paradoxo da perda de humanidade em momentos de crise, o autor nos faz questionar até que ponto estamos preparados para agir com sabedoria e iniciativa diante das mudanças iminentes, não apenas em uma situação extrema, mas no cotidiano da vida profissional e pessoal. A comparação com os desafios do mundo corporativo, como a resistência à mudança e a incapacidade de adaptação, fortalece ainda mais a relevância da mensagem central.

Convite:

Convido você a explorar mais sobre essas questões em meus livros e artigos. A reflexão proposta no texto não se limita apenas ao contexto do filme, mas se estende à vida cotidiana e ao mundo dos negócios. Em minhas obras, você encontrará mais análises e discussões sobre como a mudança, o conhecimento e a adaptação são essenciais para o nosso crescimento pessoal e profissional. Se você se interessa por temas como esse, não deixe de conhecer mais sobre minhas ideias e contribuições, que podem ajudar a ampliar sua visão sobre o mundo e sobre as escolhas que fazemos.

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A Essência Por Trás das Minhas Palavras

Conexão entre Silêncio e Comunicação Não Verbal

Quando comecei a refletir sobre o silêncio em um cenário apocalíptico, percebi que o conceito de comunicação poderia ser desafiado de formas que nunca imaginei antes. Eu me aprofundei nessa ideia ao pensar no filme “O Silêncio” e como, nesse contexto de extrema pressão, o silêncio deixa de ser uma simples ausência de som. Em vez disso, ele se transforma em uma barreira radical que, paradoxalmente, leva a novas formas de comunicação. Ao revisitar esse conceito, pensei em como algo que antes poderia ser marginalizado — como a linguagem de sinais — se torna, de repente, essencial para a sobrevivência. Eu quis mostrar que, no silêncio, a comunicação não verbal não é uma limitação, mas uma adaptação criativa, uma mudança de paradigma que resgata formas de interação que antes passavam despercebidas. O silêncio, nesse cenário, não me parece algo a ser temido, mas algo a ser compreendido e utilizado de maneira inesperada, como uma força que reconfigura nossas relações.

A Reflexão sobre a Humanidade e a Fragilidade do Conceito de Ser Humano

Em outra parte, me encontrei refletindo sobre a fragilidade do que consideramos a nossa humanidade. Quando estou diante de crises, seja no cotidiano ou em cenários mais extremos, algo me chama a atenção: a humanidade, como definimos, tende a se dissolver quando os instintos de autopreservação começam a falar mais alto. Mas eu queria questionar se a perda dessa humanidade acontece apenas em momentos de catástrofe ou se ela está também ali, nas pequenas crises do dia a dia — no egoísmo, nos conflitos ou mesmo nas pequenas escolhas que fazemos quando não estamos sendo observados. Quando pensei nisso, percebi que, muitas vezes, não é o grande momento que nos desvia de nossa humanidade, mas os pequenos deslizes que passamos por alto. É como se estivéssemos sempre à beira do abismo, sem perceber, e isso, para mim, é a grande tragédia: a humanidade nos escapa de forma silenciosa, nas coisas pequenas, nos gestos cotidianos, no egoísmo que permeia até mesmo nossas interações mais triviais.

A Falta de Iniciativa como a Maior Barreira

Também fui levado a pensar sobre o comportamento humano diante da necessidade de agir. Ao observar os personagens do filme, percebi que o maior obstáculo à sobrevivência não era a falta de conhecimento, mas a falta de iniciativa. Essa inação diante da crise é algo que me incomodou profundamente. Parece que, no fundo, sabemos o que é necessário, mas falhamos em agir a tempo. Essa falta de ação, me parece, é uma das maiores barreiras que enfrentamos, tanto no apocalipse quanto em nossas vidas cotidianas. Ao refletir sobre isso, percebi que essa falta de iniciativa não é exclusiva de filmes ou histórias extremas. Ela está presente nas dinâmicas corporativas, nas empresas que resistem à mudança, como os taxistas que resistem aos aplicativos de transporte. Esse paralelo me pareceu crucial: como estamos dispostos a agir diante das mudanças, ou melhor, como nossa inação pode ser uma forma de sabotagem, seja em um cenário de crise extrema ou em nosso próprio ambiente de trabalho.

As Mudanças Esperadas e o Papel da Humanidade

Por fim, pensei sobre o papel da humanidade diante da inovação. Em muitos momentos, as mudanças podem parecer repentinas, mas, na verdade, existem sinais de alerta, pequenas indicações que nos antecedem. A grande questão é: estamos dispostos a ver esses sinais? Eu quis destacar como, muitas vezes, as mudanças sociais ou organizacionais não são realmente inesperadas, mas sim ignoradas, por uma resistência quase natural à adaptação. Isso me levou a questionar como as pessoas, em suas rotinas, preferem esperar até que o impacto seja irreversível, em vez de perceber que a mudança já estava sendo anunciada de alguma forma. Fui levado a refletir sobre o quanto a resistência à mudança não é apenas um obstáculo, mas uma falha de percepção. Essa falta de adaptação — e a percepção de que a mudança pode ser antecipada — é algo que me parece crucial entender, especialmente quando pensamos nas grandes transformações que ocorrem ao nosso redor.

Conclusão

Ao final, o que me pareceu mais importante nessa reflexão é como eu tento interligar essas ideias — desde a questão da comunicação não verbal até a análise das mudanças sociais — de forma que a crise, a adaptação e a humanidade se entrelacem. Eu quis mostrar que, em momentos de mudança, não é apenas o contexto apocalíptico que define nossas ações, mas também as pequenas crises diárias que nos moldam. A reflexão não é apenas sobre grandes eventos, mas sobre nossa capacidade de lidar com as pequenas falhas cotidianas, as micro crises que passamos por alto, mas que, no fim, podem ser mais devastadoras do que qualquer grande cataclismo. Esse processo de adaptação é, para mim, uma das grandes chaves para entender o comportamento humano, não só diante de grandes desafios, mas também nas dinâmicas cotidianas que, muitas vezes, negligenciamos.